AS CRIANÇAS DE ONTEM E DE HOJE

Muito se fala que as crianças mudaram. Mas de que crianças estamos falando?
Será que não seria mais justo dizer que os pais mudaram as suas formas de criar e, por isso, as novas gerações têm uma nova noção de infância?
E será que as crianças realmente mudaram, ou a natureza da infância segue sendo a mesma?
Neste texto, você não vai encontrar nenhuma resposta, isso deixamos para os cientistas sociais.
Mas aqui, você vai encontrar uma série de reflexões para instigar o que você pensa sobre isso.
Do conforto de nossos apartamentos numa capital, parece fácil dizer que as crianças só ficam no computador, que não se interessam pelas brincadeiras nas ruas e tantas outras coisas.
Mas se sairmos um pouco da nossa própria zona de conforto, vemos que as coisas não mudaram tanto assim no que diz respeito a como as crianças se divertem: no interior, ou até mesmo em bairros mais afastados na capital, pode-se ver diversas crianças brincando nas ruas, jogando bola, pulando corda.
Tudo depende de onde estamos e o que queremos ver. Quais julgamentos queremos fazer para comparar estas novas gerações com a nossa.
No geral, as gerações que hoje são pais, tendem a pensar que a sua infância foi mais feliz que a dos seus filhos. Por quê? Será que assim como a beleza, como as tendências, a felicidade também não teve um longo processo de ressignificação?
É evidente que sim: se você não cria os seus filhos como foi criado por seus pais, é lógico que a infância será diferente já por si só, sem considerar todas as mudanças do mundo tecnológico neste tempo.
E como a tecnologia mudou a sociedade, seria no mínimo estranho, que ela não atingisse a infância. Porém, cabe aos pais também pensarem qual é o seu papel nesta transformação.
Será que as crianças de hoje em dia continuam tendo os mesmos direitos das de outrora, ou será que os pais já imputam diversos deveres a elas, mesmo enquanto ainda são bem pequenas.
Na correria do dia a dia, boa parte dos pais (ricos ou de classe média, é claro – porque para os pobres é outra história), matriculam seus filhos desde muito cedo na creche, pois precisam sair para trabalhar, contratam empregadas, gastam e gastam para suprir a sua ausência.
Imputam responsabilidades como aulas de inglês, aulas de ballet, aulas de Yoga, aulas de mandarim e tantas outras coisas e, depois, se lamentam se os filhos estão afastados, se eles não são mais “tão crianças assim”.
Ora, se nas outras gerações as mães passavam o dia cuidando dos seus filhos e, mesmo assim, os baby boomers reclamavam de falta de atenção, como seria hoje em dia? Não é muito mais fácil entregar um tablet com o The Sims instalado do que sentar por algumas horas com os seus filhos para brincar? Quem admite ter este tempo para brincar com os filhos?
Os adultos é que estão loucos e não as crianças.
Os pais ainda influenciados pelo boom da tecnologia que não fazia parte da época da sua infância, ainda não aprenderam a dosagem certa entre computadores e abraços.
Entregam seus filhos aos pixels das máquinas, onde lá, eles passam bombardeados por imagens, recebendo informações de todos os tipos e tendo dificuldade para diferenciar o que é virtual, imagético, do que é real, palpável.
As crianças, por sua vez, seguem sendo as mesmas esponjas que sempre foram: absorvem tudo aquilo que está à sua volta, para o bem ou para o mal. Aprendem com o exemplo e com a experiência.
Então, antes de julgar “as crianças não tem mais infância hoje em dia”, por que não se questionar sobre “qual é o papel dos pais na criação desta nova geração e quais são as novas noções de infância trazidas pelo boom da tecnologia”?

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