Pandemia já era. Agora, é pandemônio

Definição de pandemônio:

  1. sent. fig.: mistura confusa de pessoas ou coisas; confusão.
  2. associação de pessoas para praticar o mal ou promover desordens e balbúrdias.

A ideia para este texto começa no dia do pedido de demissão do ministro da saúde, Nelson Teich, e termina quando o Brasil ultrapassa a marca de 27 mil mortos por Covid-19 e se aproxima dos 500 mil casos confirmados.

Enquanto o mundo enfrenta a pandemia do coronavírus, o Brasil dá um belo exemplo global sobre como é o jeitinho brasileiro de se lidar com os problemas.

Não temos mais ministro da saúde. O tal do Teich saiu, ficou um general como interino até agora (14 dias depois) e não parece haver qualquer disposição para que algum médico assuma o cargo.

Mais do que isso, é bom avisar a um leitor desinformado, que o país segue em sua constante crise política, com o Executivo e Judiciário em alta tensão, com a sociedade em sua quase permanente dicotomia entre revistas científicas e grupos de WhatsApp; vem pra rua, fique em casa; saúde e economia; cloroquina e tubaína.

Voltando ao termo “pandemônio”, percebemos, então, que faz sentido que ele seja utilizado na situação do Brasil, onde qualquer pessoa com dois neurônios ou mais concorda, o país está lidando de forma confusa com este problema desde o seu surgimento por aqui.

É bom lembrar que “demo”, o mesmo radical que origina a idolatrada “democracia”, vem do grego “demos”, significando “povo, gente” e que, como vimos, pandemônio não se refere ao capeta, mas sim, a uma “mistura confusa de pessoas”.

Na falta de atitudes do governo federal, governadores tomaram à frente e passaram a implementar as medidas de isolamento recomendadas pela OMS para diminuir a propagação do vírus.

Pouco mais de dois meses se passaram, com uma série de confusões: ministro da saúde discordando de presidente; presidente e governadores se xingando mutuamente; ministro da justiça acusando presidente de diversos crimes; presidente fazendo propaganda para remédio sem comprovação científica, entre tantas outras notícias diárias que já fazem parte da realidade do país há um bom tempo.

Se até então, mesmo com todos os problemas e dentro de cada possibilidade individual, governadores seguiam as recomendações de órgãos científicos, na última semana, passaram a adotar uma posição diferente e a fazerem o que estão chamando de “flexibilização do isolamento” ou “distanciamento controlado”.

No bom português, cederam à pressão econômica em detrimento da comunidade científica e mandaram reabrir tudo, jogando o povo à Deus-dará, em um salve-se quem puder para desviar desse inimigo invisível.

Estipularam regras que sabem que não serão cumpridas pelos estabelecimentos, outras que são inviáveis na prática para boa parte da população, e assumem que não haverá fiscalização o suficiente para garantir o cumprimento das medidas, contando assim, com o “bom senso” da sociedade.

E voltamos ao jeitinho brasileiro: o quanto de “bom senso” é necessário para conter uma pandemia? Se já era pandemia, e no Brasil, percebemos que a situação está mais para pandemônio por conta de decisões confusas de todas as esferas governamentais, o que será que o futuro reserva para nós?

Mentes simplistas tendem a encontrar soluções fáceis para problemas difíceis. Mesmo que não queiram e que supostamente não tenham algum desvio moral, o cérebro procura por uma palavra mágica, um “abracadabra” que possa resolver o problema.

Para o presidente, esta palavra é cloroquina. Para os governadores, que agora não mais seguem as recomendações científicas e jogam a sua população à sorte de pegar ou não o vírus, de ir ou não para a UTI, este termo milagroso, que vai supostamente salvar a economia mesmo que algumas vidas sejam perdidas, passou a ser “distanciamento controlado”.

Como já escrevemos aqui, este parece ser mais um momento da história recente onde sábias palavras de fonte duvidosa fazem todo o sentido: “que Deus tenha misericórdia desta nação”.

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