Homens, precisamos falar sobre os nossos medos. E precisamos mesmo, antes de qualquer coisa cabe dizer que este texto é escrito por um homem, direcionado a homens, e visa lembrar, sobretudo, que nossos medos nos matam.
Somos ensinados a não ter medo, mas nem percebemos o quão medrosos somos, desde a infância.
Por trás da frase “homem não chora”, por exemplo, aprendemos que devemos temer a demonstração de emoções. Isto por si só, já implica em diversos fatores psicológicos, que podem passar por pequenos traumas a grande doenças que envolvam relacionamento interpessoal.
Com o passar do tempo, os medos vão mudando de forma devido às pressões sociais, mas estão sempre presentes.
Poderíamos levantar diversos outros exemplos de como a cultura do medo está implícita no cotidiano que forma a masculinidade, na adolescência, na vida adulta e na velhice.
Transar com o maior número possível de mulheres esconde o medo da solidão, da impotência, demonstra a necessidade de aprovação perante a sociedade para ser visto como “garanhão”.
Ter um comportamento viril, ser forte, provedor, ter confiança em si mesmo: debaixo de tudo isso, está o medo da desaprovação, estão as práticas comportamentais conhecidas na psicologia como “manual imaginário do homem viril”.
Dentro deste mundo imaginário, mas ao mesmo tempo, tão real, um dos medos mais comuns é o de ir ao médico.
E é aqui que entramos na relação entre todos os medos que formam a nossa personalidade masculina, e nem percebemos, com o novembro azul: o medo de um exame específico, que é o exame de toque retal para detecção do câncer de próstata.
Pouquíssimos homens viriam a admitir que sentem “medo de um exame” e utilizariam ene subterfúgios argumentativos para não realizar o exame de qualquer forma, mas queremos aqui, pensar um pouco sobre de onde vem esse medo, de onde vem o tabu sobre um dedo no ânus.
Com o perdão do trocadilho, o papo é reto: a maioria dos medos vem daquilo que não se conhece, que se tem preconceitos ou informações imprecisas sobre o fato em si.
Se o medo do exame é sobre a dor em si em sua realização, poderíamos tranquilizar os desavisados de que há uma preparação anterior para que esta não seja sentida e poderíamos relacionar a qualquer outro tipo de incômodo que temos em cadeiras ou salas médicas, sendo que arrancar um dente, por exemplo, pode doer muito mais do que a realização do exame.
Reconhecendo que boa parte do medo do exame de câncer de próstata não vem da dor que possa ocorrer, há uma boa parcela dos homens, em especial com idades mais avançadas, que tendem a associar o ânus com a orientação sexual e apresentam o argumento cada vez mais combatido, mas ainda presente, de que “seriam vistos como gays se realizassem o exame”.
A esses, temos uma novidade que pode abrir as perspectivas: homossexuais são pessoas que gostam do mesmo gênero e não diz respeito a qualquer tipo de prazer ou não com o reto. Há, inclusive, casais heterossexuais onde ocorre este tipo de prazer e, nem por isso, o homem pode ser visto como “gay”, pois sua orientação sexual ainda é direcionada ao outro gênero.
Ou seja, não há sentido em ter medo de um exame por achar que sua orientação sexual mudaria, milagrosamente, se o fizesse.
Pincelados os medos biológicos e sociais, ainda cabe outro que é visto como um dos fatores para homens não fazerem o exame de próstata: a vergonha e a vulnerabilidade a que ficam expostos no momento da realização.
Sobre isso, cabe lembrar de exames urológicos, onde a pessoa fica tão vulnerável quanto e é sempre importante de se salientar a necessidade da procura apenas por médicos de sua confiança para realizar qualquer tipo de exame.
Por fim e indo mais a fundo, a não-realização do exame pode estar associada ao medo da morte. Sim, pois “se eu não descobrir a doença, ela não existe”.
O que se trata de outro medo infundado e que tanto mata por aí, tendo em vista que é justamente o diagnóstico precoce de qualquer tipo de câncer que aumenta (e muito) a sua chance de ser curado.
Contudo, esperamos que esse texto tenha servido para você colocar um pouco o dedo na consciência: não há justificativa plausível para ter medo de um exame que pode salvar a sua vida.